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X Questions | Bruno Dias

Em Julho e Agosto, o Algarve é destino de lazer e férias para muitos, mas não foi o caso para a equipa do Amora FC que escolheu preparar a pré-época no Browns Sports Resort.
Bruno dias, o treinador da equipa que recentemente subiu para a 3ª divisão, esteve à conversa connosco para responder às nossas dez habituais questões que temos colocado aos diversos treinadores que têm estagiado no Browns.
Foi notória a sua paixão por desenvolvimento pessoal e emoções.


 

01 | Qual é a melhor parte de ser treinador?

Transformar a vida das pessoas.

Nós, enquanto treinadores, o que fazemos é procurar que os jogadores se transformem em jogadores melhores e isso só é possível se eles forem Homens melhores. Portanto, eu acho que isso é o papel do treinador.

Ser capaz de gerar valor aos jogadores de forma a que eles sejam suficientemente capazes, resilientes, para que independentemente do que aconteça irem à procura de ter o melhor para eles e isso só é possível se for melhor para a equipa.

Essa é a parte fascinante do treinador: é transformar Homens colocando todos a trabalhar para um objetivo comum.

 

02 | E qual é a parte mais desafiante na sua profissão?

Entender as diferentes personalidades que os Homens têm.

Gerir expectativas.

Perceber que existe todo um conjunto de pessoas que estão à volta do clube que têm essas expectativas, que têm essas emoções, pois nós somos portadores de emoções e vamos gerar emoção a alguém. Podemos fazer com que eles se sintam felizes ou tristes em função do comportamento que nós temos. E o que nós queremos é gerar comportamentos que façam as pessoas serem felizes. (Quando eu falo dos Homens, estou a falar em humanidade. Não estou a falar do género masculino nem feminino.) E, portanto, é isso que nós queremos. Esse é o maior desafio: é gerar emoções positivas a toda a gente que nos acompanha.

 

03 | Quais são as competências que considera importantes num jogador, para além da condição física?

É exatamente essa, a mentalidade.

Resiliência, a forma como eles olham para cada desafio que nós temos como uma solução para que eles sejam melhores e mostrarem todos os dias essa transcendência. E procurarem em cada desafio que nos aconteça.

Aliás, existem sempre dois lados. Nós não controlamos o que nos acontece. Controlamos é a forma como reagimos ao que nos acontece. E esse para mim é o maior ponto que os jogadores têm que ter. Olhar para o evento e dizer "O que posso tirar de melhor disto e como vou crescer enquanto jogador?" Isto vai ajudar a equipa.

 

04 | Como descreveria a sua equipa usando 3 palavras?

respeito
ambição
coragem

 

05 | Pode mencionar um grande momento da sua carreira?

Existem muitos. Só um é mais difícil, mas...

(Qual) o que destaca mais?

O que destaco mais é a subida de divisão do ano passado.
Claramente éramos uma equipa que quando começou não estava a ser vista como uma equipa que seria capaz de subir de divisão e de gerar essa onda de energia positiva à nossa volta e essas emoções positivas para todos. E no final não deixámos dúvidas nenhumas que éramos uma equipa muito capaz, que conseguiu ultrapassar todos os obstáculos, que alcançou os objetivos e que conseguiu fazer as pessoas felizes
.

Parabéns pela subida à 3ª divisão.

Muito obrigado.

 

06 | E pode mencionar um momento mais baixo (da sua carreira)?

O momento mais baixo da minha carreira... (pensativo)

... que tenha servido como alguma lição

Ui! Eu creio que o mais difícil é capaz de ter sido... Deixe-me lá ver... Por acaso eu não encontro muitos momentos desses... Talvez porque eu encaro muito... exatamente dessa maneira que é: este momento proporcionou-me algo melhor a seguir e portanto não há aquele momento baixo.

Mas eu diria que foi quando eu saí do último clube. Realmente fiquei triste porque considerámos que o percurso ainda estava a meio e que o objetivo estava claramente alcançável e estávamos em cima dos objetivos. Talvez tenha sido o momento mais penalizador. Antes disso houve um momento em que não cumpriram a palavra comigo e isso deixou-me chateado, mas como não sou eu que controlo, não posso fazer nada e tive que lidar com isso. Mas é muito mais essas situações do que propriamente ganhar ou perder jogo porque isso faz parte do desafio. Quando se tocam questões de princípio é que fica mais difícil

 

07 | Mencione três pessoas no mundo do desporto que admira ou/e que tem como modelo a seguir.

(José) Mourinho — Claramente! Na minha perspetiva é o treinador que revolucionou o treino em Portugal e mudou o paradigma do futebol. A importância que passou a vários dos factores que estão em volta de uma equipa de futebol e à época centrar o treino na componente tática. Na minha memória, revolucionou a comunicação interna mas principalmente externa dos clubes de futebol pela sua capacidade de centrar o futebol, nas pessoas, e nas emoções que estas sentem.

E depois como a forma a equipa joga —  (Jürgen) Klopp.

E pela forma como lidera a equipa — (Diego) Simeone — porque tem uma liderança que acho que é fantástica. E o compromisso com a equipa, compromisso com o jogo e com a capacidade que os jogadores têm que ter para superar cada dia. Kloop também está nesta linha, pela forma como ele olha o jogo no sentido de ter uma equipa maleável em que o jogo acontece.

Notas:
* José Mourinho — 6 Prémios como melhor Treinador no Premier League, UEFA e FIFA. 4 Títulos em Competições Internacionais (Liga dos Campeões e Europa League) e 21 Títulos em Competições Nacionais em Portugal, Itália, Espanha e Inglaterra. Saber mais

* Jürgen Kloop — 3 Prémios como melhor Treinador na UEFA e Premier League. 3 Títulos em Competições Internacionais (Campeonato do Mundo de Clubes, Supertaça Europeia e Liga dos Campeões) e 7 Títulos em Competições Nacionais na Alemanha e Inglaterra. Saber mais
* Diego Simeone — 4 Títulos em Competições Internacionais (Europa League e Supertaça Europeia) e 6 Títulos em Competições Nacionais em Espanha e Argentina. Saber mais

 

08 | Que conselhos daria a alguém que começou o percurso de treinador?

Que nunca desista do sonho de ser treinador independentemente do que aconteça.

Que tenha a capacidade de, sempre, a cada momento, olhar para a luz ao fundo do túnel e de perceber que vai passar por momentos difíceis, mas que se tiver o foco vai lá chegar. Mas tem que ser ele a chegar e não pôr a responsabilidade nos outros.

Procurar as pessoas que ele tem como referência para o ajudar a ser melhor treinador todos os dias.

Mas basicamente a questão é nunca desistir do sonho independentemente do que os outros digam, independentemente das coisas estarem a correr muito bem ou mal. É continuar a fazer. Os elogios e as críticas não são mais do que, perdoem-me a expressão, ruído à nossa volta. Nós temos é que nos focar no que temos que fazer, continuar e se isso acontecer, iremos lá chegar de certeza absoluta.

 

09 | Se pudesse decidir, haveria algo que gostaria de mudar no futebol?

Há tantas coisas que gostaria de mudar no futebol.

Eu acho que... no futebol há uma questão que é muito importante. Toda a gente fala de fair-play, dos princípios que devem ser seguidos, mas uma coisa é falar e outra é fazer. Portanto, o que eu mudaria no futebol é exatamente isso, as questões éticas.

As questões éticas são claramente as mais valorizadas de todas por não achar que ganhar a qualquer preço é o mesmo que ganhar. Não é. Ganhar é ganhar cumprindo os padrões éticos estando todos em situação de igualdade no princípio para a competição, cumprindo todas as mesmas regras, sem exceção. Desta forma, ficará claro quem foi, naquele momento, mais competente para vencer. Portanto, eu mudaria isso.

Diria que temos que ser ainda mais capazes de tornar a ética num pilar do desporto, sabendo que estamos a competir e que queremos ganhar ao outro. Mas não é porque eu quero ganhar ao outro que ele é meu inimigo. É só o meu adversário. Porque sem ele eu também não jogo.

 

10 | E por último, como tem sido a sua experiência no Browns?

Tem sido muito boa. Eu acho que tem umas condições fantásticas para nós treinarmos.

Tenho que dar os parabéns principalmente pela questão da relva. Extraordinária!
A carga de treinos que nós temos ali... Estamos a treinar bi-diário, sempre no mesmo espaço físico e a forma como as pessoas tratam da relva... Têm sempre a relva disponível para nós. Nós estamos aqui, salvo erro, no 16º dia e a relva está fantástica para treinar. Não temos problema nenhum com o relvado que é algo que é muito desafiante. E se vocês olharem no contexto mundial, é muito difícil treinar sempre no mesmo relvado e com esta carga tão grande que nós estamos a fazer. 

A simpatia das pessoas, a coordenação e a flexibilidade para nós podermos usar os espaços que são mais que convenientes à equipa.

Mas a questão para mim, a questão da relva é claramente algo que me surpreendeu muito pela positiva, porque é um desgaste muito grande, estamos numa altura de muito calor, era muito fácil a relva não ficar tão boa para se jogar e a verdade é que nesse aspeto está extraordinária. 

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